quarta-feira, dezembro 22, 2010

Amizade sem nome

Amizade sem nome –17-12-2010



Khao Sok, Tailândia. Não pára de chover. Confundem-se as gotas que caiem do céu com as que caem das árvores. É a floresta verde mais antiga do mundo, vende-nos o Lonely Planet. Talvez por isso o meu companheiro de viagem esteja tão empolgado – ele adora as coisas “mais … do mundo”.

Agora aqui estou e não posso voltar para trás. Com a indumentária mais incrível, resultante de trapos meio sujos que tinha na minha pequena mochila, mas que me protegem as pernas e os pés. Na verdade, as sanguessugas apoquentam-me, e de que maneira! Todo o percurso exige o pé dentro da lama. Misturam-se a boa sensação de uma lamacenta suavidade e o desconforto causado por pedrinhas, que ao fazerem-me comichão me deixam a dúvida se serão só pedrinhas…

Mas até aqui o sentimento é saudável, a natureza faz-me bem. Com alguma dificuldade, direi, respiro o ar puro. A água que me escorre pela cara é limpa e fresca. Tão diferente da chuva de cidade.

Ao fim de duas horas e meia de provações selvagens, chegamos finalmente ao destino. Oh, como eu preferia nunca ter chegado. De Indiana Jones passo rapidamente a miúda histérica. Sou completamente dominada pela fobia. Aracnofobia. Chegámos a uma gruta, onde não entra raio de luz. O guia, de quem nunca cheguei a conseguir perceber o nome (tenho péssima audição e não gosto de ser insistente) aponta para cima – centenas de morcegos. Até aí tudo bem. Estão parados... Mas no chão…lá estão elas… Argh! não desmaio porque realmente não dá jeito terem de transportar-me todo o caminho de volta para o acampamento ao colo. Mas também já não largo a mão do meu novo amigo, aquele rapaz de tez escura, olhos rasgados e sorridentes. Farta-se de rir – deve achar comicamente ridículas estas meninas urbanas que se aventuram pela selva. No entanto, nunca mais me deixa para trás. Ajuda-me a atravessar todos os obstáculos, as pedras, o musgo, as raízes, os riachos. Oferece-me todas as lembranças possíveis: chapéus e instrumentos que acaba de fazer com plantas. Um copo de cana, que enche com água da chuva e me dá a beber. Sabe bem. Estes gestos fazem-me feliz. Adoro esta simplicidade. Como a dos seus chinelos, nos quais deu um toque de originalidade com a sua faca do mato. Num deles Tokio, no outro Hotel. Deliro com o facto de conhecer esse grupo de música, do qual a minha irmã pré-adolescente também é fã.

No regresso, já instalados no barco que nos levará embora, conversamos. Gosta muito de viver ali. A floresta é a sua casa e não a troca por nada. É guia porque gosta de conhecer pessoas tão diferentes e de conversar com elas. Também gosto dele. Sorrio, afinal valeu a pena.

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